Conferência pré-estatuinte traz pró-reitor da Universidade do ABC

Diferentes concepções de universidade foram propostas pelo convidado e também pelo professor Vitor Schuch da UFSM

estatuinte 2Na tarde de quinta-feira, dia 14 de abril, o auditório do Centro de Tecnologia ficou lotado para a conferência pré-estatuinte que debateu as diferentes concepções de universidade. Para tanto, foram convidados o professor da UFSM, Vitor Schuch, e o pró-reitor de Pós-Graduação e Pesquisa da Universidade Federal do ABC (e egresso da UFSM), Gustavo Dalpian. Abrindo a cerimônia, o coordenador da comissão pré-estatuinte, João Paiva, comentou que o momento é um marco histórico na UFSM e, em seguida, o vice-reitor, Paulo Bayard, complementou apontando para uma estatuinte ampla, democrática e com a visão de todos.

O professor da UFSM levou aos presentes um levantamento histórico da formação das universidades no Brasil e também apresentou os modelos nos quais a UFSM montou o seu estatuto e funcionamento. Conforme Schuch, a primeira universidade, em Bolonha na Itália, data do ano de 881, enquanto que os primeiros cursos foram surgir no Brasil apenas no século 19 e as universidades só no século 20. Em 1808, foram formadas as primeiras escolas isoladas e de cunho profissionalizante, em 1968 veio a reforma universitária que departamentalizou as antigas cátedras, mas a regulação aconteceu apenas na década de 1990 e as diretrizes curriculares nacionais apenas nos anos 2000. “O que isso significa? Atraso e descaso”, resumiu Schuch.

estatuinte 3O professor ainda explicou o modelo burocrático de gestão e a divisão em centros e departamentos que fundamentam o funcionamento da UFSM. A universidade está dividida em reitorias e pró-reitorias como nível estratégico, os centros como nível gerencial e os departamentos, operacional. “Dessa forma nossos ‘operários’ são a elite intelectual e estão na base da pirâmide, o que é próprio das universidades diferente do que acontece com as empresas. Assim, o modelo burocrático não se aplica às universidades pois não há quem saiba mais do que ninguém para propor políticas e estratégias, sendo que estas muitas vezes vêm das bases. Isso gera um conflito permanente no qual o modelo burocrático sufoca decisões e faz superposições das funções legislativas, executivas e judiciais”, explicou Schuch – para quem o reitor deve ser um grande articulador e não gestor.

Dalpian, por sua vez, ressaltou que o modelo hoje vigente na maioria das universidades é o mesmo de muitos anos atrás e expôs a experiência na UFABC onde não há departamentos (apenas centros) e os alunos ingressam em um bacharelado interdisciplinar. A UFABC tem apenas três centros: CCMC (Computação, Matemática e Cognição), CCNH (Ciências Naturais e Humanas) e CECS (Engenharia, Modelagem e Ciências Sociais Aplicadas). “É necessário agilizar os processos cortando instâncias e vou confessar que os departamentos não fazem falta. O Objetivo é favorecer a interdisciplinaridade que é daí que vêm as grandes ideias”, comentou Dalian.

estatuinte 4Baseada no pilar da interdisciplinaridade, a UFABC oferece ao estudante um curso de 3 anos de uma base comum em Ciência e Tecnologia ou Ciência e Humanidades e a partir daí o aluno pode sair para o mercado, profissionalizar-se ou seguir para um pós-graduação. “Com o bacharelado integrado é possível flexibilizar a escolha das disciplinas baseadas no perfil e necessidade do aluno, combater a evasão e principalmente postergar a escolha profissional do jovem em até dois anos para ele experimentar disciplinas”, avaliou Dalpian.

Papel dos ocupantes de cargos técnicos – Após abertura para perguntas, a presidente da ATENS – Seção Sindical, Maria Nevis, questionou os palestrantes sobre o papel dos técnicos nos modelos de universidade apresentados. Conforme a presidente, o perfil dos técnicos hoje é de uma grande qualificação mas pouco espaço de atuação dentro das universidades. “Quando se discute estatuinte também se discute qual é o papel do técnico que é qualificado e onde encaixá-los. Cristóvão Buarque, quando esteve aqui falou que os técnicos seriam os terceiros integrantes da pesquisa, mas não é só a pesquisa: temos ótimos administradores que são pouco incluídos”, afirmou.